Educação

Carta de Intenções – Uma nova forma de planejar o trabalho docente na educação infantil.

por Fabiano da Silva Pinto

11/06/2021

 

docentes educação infantil

No início do ano letivo, nas primeiras reuniões pedagógicas da educação infantil, temos como tarefa a elaboração do plano anual. Em unidades que passei, era comum utilizar o planejamento do ano anterior como base e, muitas vezes, não tínhamos a oportunidade de conhecermos quem eram as crianças ou bebês que seriam impactadas com as decisões daquele documento.

O plano precisava ter seus objetivos enquadrados nos campos de experiências, porém nem sempre o objetivo se enquadrava em apenas um campo, o que nos mostrava que a aprendizagem não é fragmentada.

A Carta de Intenções veio como uma possibilidade de aprimorar o que era feito no plano anual, pois saímos dos tópicos e entramos em um texto descritivo de autoria do(a) professor(a) e de escuta das crianças e bebês.

É o ponto de partida do trabalho docente, momento que se traça um roteiro que pode ser refeito sempre que necessário, pois “valoriza o fazer pedagógico, o acontecimento diário, que muitas vezes não se formaliza no registro, mas é responsável por cada direção tomada” (SME, 2020, p.30).

A carta tem como função apresentar uma mensagem, que nesse caso é comunicar para a comunidade escolar (famílias, crianças e docentes) o que se pretende para o período, aproximando o planejamento ao protagonismo das crianças e bebês, por isso, é importante que a carta tenha uma linguagem acessível.

São documentos autorais dos(as) professores(as), que podem ser individuais ou do agrupamento, que apresentam suas expectativas, programações e emoções para um período. Devem ser elaborados a partir dos documentos curriculares vigentes, do Projeto Político Pedagógico (PPP), da escuta das crianças e das observações dos(as) professores(as).

 

Dado seu caráter de iniciação, a Carta de Intenções revela-se como um instrumento de planejamento para o início do ano letivo e/ou também para o início de cada semestre letivo. Ela representa um compromisso com a aprendizagem e o desenvolvimento dos bebês e das crianças e deve ser revisitada frequentemente, ao longo do ano letivo. (SME, 2020, p.31)

 

 

Não há um modelo a ser seguido, mas temos alguns pontos que a carta precisa sinalizar como:

docente educação infantil

Para a elaboração da carta é necessário que os (as) professores(as) tenham um tempo de convivência com as crianças e bebês, para que faça sentido o que será proposto, pois é preciso conhecer o grupo para oferecer atividades de interesse, de ampliação do conhecimento comum e de exploração para avançar nas aprendizagens.

Algumas redes de ensino têm adotado a  Carta de Intenções  como um instrumento que caminha junto com as reflexões docentes e as experiências e conquistas da turma. Utilizar as cartas ao longo do ano letivo, possibilita dar vida ao que está sendo proposto e realizado às crianças e bebês.

Segue, abaixo, a Carta de Intenções que eu e meu grupo elaboramos ano passado após um período de conhecimento dos nossos(as) alunos(as):

Carta de Intenções – MGICD – 1º semestre 2020

A comunidade escolar.

            Nós, professores Giselle e Lígia (manhã) e Andressa e Fabiano (tarde), após esse início de adaptação e momento de conhecer um pouco o grupo de crianças que conviverão durante todo o ano de 2020, temos alguns pontos de partida para a nossa caminhada, que estão alinhados ao currículo do município e os seis direitos fundamentais da criança: conviver, brincar, participar, explorar, expressar e conhecer-se.

            O primeiro ponto é ajudá-los na independência e na confiança em si mesmos, através de um ambiente acolhedor em que todos tenham suas especificidades respeitadas, desenvolvendo a autonomia e potencialidades através de desafios para a superação de possíveis dificuldades.

            Com as rodas de música e conversa, parlendas e cantigas de rodas entre outros teremos a oportunidade de estimular a oralidade e ampliar o vocabulário.

            As atividades como pular, correr, dançar, uso de motocas, gangorras, balanços, escorregadores, túneis, entre outros, farão parte de nossas vivências para a exploração e conhecimento de limites e possibilidades.

            A leitura através de histórias lidas, contadas e vivenciadas será um instrumento utilizado para a ampliação do vocabulário enriquecendo a linguagem oral, além de alimentar a imaginação e construir hábitos de leitura.

            Estimularemos uma alimentação saudável em que possibilite provar novos sabores, bem como hábitos de higiene e cuidado com o próprio corpo para que progressivamente tenham autonomia de fazer por si próprios.

            Durante todo esse ano as crianças terão oportunidades de utilizarem diversos espaços da unidade como: parque, quadra, brinquedoteca, tanque de areia entre outros, em que poderão explorar de diversas maneiras o brincar para a construção de aprendizagens.

            Por meio das próprias brincadeiras que as crianças inventam e/ou do faz de conta, aprenderão a fazer escolhas, superar desafios e se tornarem autônomas, relacionando-se com as diferenças existentes em cada uma e compreendendo a importância da flexibilidade e respeito. Aqui também proporcionaremos o acesso e contato com a natureza explorando folhas, galhos de árvore, grama, terra, água, pedras etc.

Será proporcionado o contato com diferentes materiais estruturados ou não (bolas, cordas, sucatas, potes, tampas entre outros), para a experimentação de várias possibilidades do brincar. As produções artísticas também farão parte da nossa caminhada como pinturas, colagens, modelagens, desenhos (com diferentes suportes), dança, teatro e música, ampliando gradativamente nosso repertório e ressaltando que todas as produções são importantes e ricas para apreciação.

            Vale ressaltar que somos professores e não detemos todo o conhecimento. Faremos nosso papel de mediadores e incentivadores nesse processo de construção e conquistas em que as crianças são protagonistas de suas próprias histórias.

Durante todo esse percurso, nós professores, contamos com a parceria das famílias, desejando fortalecer os laços e relações de confiança para o desenvolvimento integral das crianças.

Professores Giselle e Lígia (manhã), Andressa e Fabiano (tarde).

 

Veja abaixo mais alguns exemplos de Carta de Intenções:

http://bit.ly/CartadeIntenções-CEISantaRita

http://bit.ly/CartadeIntenções-CEIParqueFongaro

 

docentes educação infantil

 

REFERÊNCIA

São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Orientação Normativa de registros na Educação Infantil. – Secretaria Municipal de Educação – São Paulo: SME / COPED, 2020. Disponível em: https://educacao.sme.prefeitura.sp.gov.br/wp-content/uploads/2020/12/ON-Registros-Digital.pdf Acesso em 10 de mai. 2021.

 

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Comentários sobre o texto

  1. Ana Paula Gomes Pompeu Oliveira disse:

    Bom dia.
    Parabéns excelente.

    1. Elos disse:

      Obrigada pela leitura e comentário. Ana Paula!

  2. Alenilza disse:

    A carta de intenções é ponto de partida e que norteia o trabalho docente e as concepções de bebês e crianças, por isso, devem contemplar não só o percurso das atividades mas as intencionalidade a serem desenvolvidas e também interesses observado no decorrer do processo . O professor precisa fazer uso da prática de registro de sua ação docente de modo que possa recorrer a eles para avaliar o quanto qualificou ou não tal ação.

    1. Fabiano da Silva Pinto disse:

      Oi, Alenilza.
      Você trouxe um ponto importante que é o registro da prática pelo/a professor/a.
      Esse registro, que deve contemplar suas ações, suas reflexões e observações vão ajudar na realização dos novos planejamentos e na afirmação dos resultados conquistados.

  3. Juraci disse:

    Parabéns, a carta de intenção ficou bem clara e objetiva referente ao trabalho do professor.

  4. Professora Rúbia disse:

    Excelente, muito obrigada por compartilhar.

  5. Fernanda disse:

    Parabéns excelente

    1. Elos disse:

      Obrigada Fernanda. Abraços!

  6. Fernanda disse:

    Eu como auxiliar de cozinha tenho o seguinte relato: Uma criança com autismo no seu período de adaptação não fazia suas alimentações e para desenvolver esta questão,ao poucos fui fazendo adaptação dos alimentos,exemplo: ele nao comia macarrao com molho,pra ele a coloracao no macarrao na era algo bom,fui ao poucos incluindo molhos diversos,brincando com as cores do alimento para ele compreender que as coloracoes sao boas,conhecendo os gostos dela e entendendo suas necessidades e atualmente ele come todas as refeições igualmente para todas as crianças.

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