por Cristiane Moda
14/07/2017
Quando o assunto é aprendizagem escolar sabemos que os docentes preocupados com a qualidade e o resultado de seu próprio trabalho, planejam suas aulas, se importam com os conteúdos que precisam ser cumpridos, buscam estratégias e recursos para a aula, além de participarem de cursos voltados para a formação continuada. Apesar de todo esse engajamento para ensinar, quantos são os alunos que diariamente, nas salas de aula, não atingem o conhecimento esperado?
O fato é que quando esses profissionais da educação se deparam com esta situação de alunos que não atingem a aprendizagem esperada, variadas são as sensações manifestadas: preocupação, incapacidade, decepção, aversão ao aluno e outras. Mas será que os professores estão realmente conseguindo ensinar seus alunos ou tudo não passa de uma mera transmissão de conhecimentos?
Não é de hoje que especialistas e pesquisadores da área da educação, psicologia e saúde buscam de fato compreender como ocorre a apropriação do saber. Sendo assim, conforme descreve Relvas (2011) é fundamental entender o conceito da Plasticidade cerebral, sua contribuição para a prática do professor em sala de aula, bem como as dimensões cognitivas, motora, afetiva e social no redirecionamento do aluno.
A plasticidade cerebral consiste em uma reorganização da estrutura neural do indivíduo ao viver uma experiência nova, ou seja, a capacidade das sinapses, dos neurônios ou de regiões do cérebro de alterar suas propriedades através do uso ou estimulação. A partir disso, é possível afirmar que o aprendizado não ocorre de maneira automática, pois a aquisição de informações depende de conhecimentos já existentes, ou seja, os “conhecimentos prévios” e também de uma carga considerável de estímulos para que esse aprendizado permaneça em atividade constante, fortalecendo e desenvolvendo as redes neuronais do cérebro.
Segundo Schumacher (2006) os conhecimentos prévios assumem um papel fundamental na aquisição da aprendizagem, pois quanto mais organizados eles estiverem, mais fácil será o aprendizado. Por este motivo, é importante o professor saber quais são os conhecimentos prévios e conceitos cognitivos que seu aluno possui para que a partir daí possam ser utilizados os métodos pedagógicos mais adequados de acordo com o nível de aprendizado retratado pelo aluno.
Nesta perspectiva, o professor que assume o papel de mediador e estimulador na aprendizagem do aluno, poderá garantir a qualidade no ensino e resultado em sala de aula. Entretanto, se for precária a qualidade da mediação, as sinapses provocadas no cérebro deste aluno também serão ineficientes durante esse processo de aprender.
Para Gardner (1995) as pessoas possuem interesses, habilidades diferentes e por isso não aprendem da mesma maneira. A repetição de uma atividade, a retomada de um conceito sempre do mesmo modo ou práticas repetitivas do professor, ativam sempre as mesmas conexões sinápticas em nosso cérebro, o que não favorece a aprendizagem do ponto de vista da memória (não criam novos engramas¹) comprometendo a assimilação do conteúdo pelo aluno.
Estudos da Neurociência afirmam que ao apresentarmos um conteúdo novo para o aluno, uma atividade desafiadora que provoque suas emoções de maneira satisfatória, imediatamente será ativada a sua amígdala cerebral², enviando impulsos para o hipocampo, afirmando ser algo interessante e significativo. Essa informação será enviada automaticamente ao lobo frontal para ser arquivada na memória, tornando-se um conhecimento adquirido.
A partir do momento que o professor passa a compreender o funcionamento do sistema nervoso e do processo de aprendizagem, ele percebe a necessidade de sempre inovar, instigar, propor atividades diferenciadas e que façam sentido para o aluno, desenvolvendo melhor seu trabalho, podendo intervir de modo efetivo em sua prática, para um desempenho progressivo do aluno.
No atual contexto que a educação vem sendo instituída torna-se essencial ter clara a importância de desenvolver o potencial do aluno como um todo, embasado em suas reais condições, visando sempre a expansão de sua aprendizagem em todas as áreas do conhecimento, respeitando suas limitações e levando em consideração seus aspectos físicos, cognitivos, emocionais, linguísticos, afetivos e sociais. Afinal, é de extrema importância que o professor proporcione a seus alunos práticas eficazes de ensino.
[1] Impressão deixada nos centros nervosos pelos acontecimentos vivenciados, ativa ou passivamente, pelo indivíduo: conhecimentos adquiridos, convicções, cenas assistidas, traumas, hábitos, condicionamentos etc. e que corresponde à fixação de uma lembrança. Os engramas são passíveis de evocação, de recordação espontânea no sono ou vigília ou, ainda, de associação com eventos atuais, podendo levar o indivíduo a um comportamento automático, reflexo ou voluntário.
[2] A amigdala é uma pequena estrutura do sistema nervoso em forma de amêndoa, importante na aquisição de informações de perigo, processamento, elaboração e produção de respostas aos agentes estressores.
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Nós professores estamos sempre abertos para inovar, sabemos que somos responsáveis em transformar e formar o cidadão que o mundo precisa. Educar não e papel da escola, mas podemos contribuir com o conhecimento e atitudes desafiadoras para construir uma sociedade melhor.
Obs os conhecimentos prévios facilita preparar as aulas,de acordo com nível de aprendizagem, é mais fácil traçar as metas e tornar as aulas enriquecedoras.A neurociência está abrindo caminhos
A única certeza que temos, é que de fato, a Educação pode transformar a sociedade, o professor enquanto mediador tem um papel importantíssimo, para essa transformação ser positiva.
Muito interessante e esclareceu de forma sucinta o assunto. Sou professora e atualmente estou na função de supervisora escolar. Atualmente, me deparo com um grande desafio:motivar os professores.São poucos os professores que estão dispostos a mudar metodologias. Existem sim aqueles que querem e trabalham de forma diferenciada. É por estes que ainda luto e persisto.
É muito importante o professor ter conhecimento sobre a plasticidade cerebral, o individuo aprende por toda a vida, considerar os conhecimentos prévios de cada educando, faz parte do desenvolvimento de aprendizagem pois a partir deste ponto o profissional irá ter um norte e saber qual estímulo necessário para que o aprendente crie novas conexões, e sinapses de aprendizagem.
Exato, este conhecimento agrega muito para o desenvolvimento da aprendizagem.
Obrigada Flávia!
Post ótimo, mas onde procurar ajuda, pois sofri um avc há um ano e estou com sequelas, pedindo, humilhando se precisar por ajuda!!! Se puderem por carinho,misericórdia quem sabe me ajudem por favor
Sou técnica em enfermagem,mas me interesso muito pela educação,principalmente,quando se diz respeito à dificuldade de aprendizado,talvez pelo fato de ter sido voluntária na APAE,e presenciado o esforço dos educadores em proporcionar um conteúdo apropriado á realidade de cada aluno.Assim como em minha área de atuação convivo com pacientes que foram excelentes alunos,e em algum momento aptesentaram transtornos como a esquizofrenia,fazendo com que os mesmos se tornassem escravios de suas alucinações,afastando- os do convívio social.A definiçãi de plasticidade cerebral veio acrescentar um entendimento o que ocorre em nossos cérebros quando recebemos e quando perdemos a autonomia do aprendizado.
Obrigada por contribuir com a sua experiência.
estou iniciando o curso de pedagogia e é tudo muito novo pra mim, espero compreender ainda mais sobre este assunto.